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Aceita-te!

 Aceita-te! Não permitas que o teu desalinho, que a tua errância, que o teu não saber para onde vais seja, na mão dos outros, uma arma de arremesso contra ti.

Acaso sabem os outros, para onde vão? Sim, é verdade que alguns de nós têm mentes mais blindadas, ideias mais definidas sobre o que querem… e é verdade que o universo absorve as tuas vibrações e que há uma forte possibilidade de que aquilo que anseias, ser aquilo que dele recolhes. Mas há muitas variantes que tu, sozinho/a não controlas. Que tu, sozinhe, não controlas. Cada vez mais existem variantes que fogem ao teu domínio sobre ti mesmo. Sobre ti mesma. Sobre ti mesme. E como o exemplo aqui praticado, uma simples letra muda todo o sentido de uma palavra, de uma frase. Se gramaticalmente e a nível de expressão verbal vamos adquirir este ‘e’ no final dos adjetivos, para expressarmos a nossa ideia de inclusão pode ser uma não-questão. A verdadeira questão é, parece-me, que, se falarmos de todas as mulheres, não estamos a falar de toda a humanidade. E se falarmos de todos os indivíduos sem particularizarmos a nossa aceitação da crescente comunidade LGBTQI+, continuamos a não falar de todas as pessoas, de todos os seres humanos.

Há um discurso de ódio contra as causas. Esteja na origem a orientação sexual, o volume do corpo, a classe trabalhadora a que cada um pertence, ou a tão famigerada etnia. Entre as ideologias e os valores de cada indivíduo ou grupo, perdeu-se o caminho do debate saudável, do confronto amigável. O ‘concordo em discordar’ já não se usa. E pergunto mesmo mais: essa expressão já não caducou em 1900 e qualquer coisa?!

O caminho utilizado pela geração do amor (a que fez amor em Woodstock e a que defende o amor porque nasceu de Woodstock), é o destilar de ódio e de veneno, é o arremessar de insultos e a utilização de violência gratuita contra todos e qualquer um que veicule uma ideia diferente da sua.

Nisso, não somos diferentes das outras espécies pertencentes ao reino animal: há uma bestialidade intrínseca em nós! E não importa o quanto evoluímos racionalmente nem quão altos são os arranha-céus que construímos, se não soubermos dominá-la. O que nos afasta, porém, da genialidade da vida animal, é que os ditos seres irracionais constroem clãs e criam comunidades com vista à conservação da sua espécie. Nós somos a espécie que aprendeu a matar, ao invés de proteger. Matámos para comer. Matámos para vestir. Matámos pelo prazer de dominar. Matámos até que matar se tornou algo ‘leve’, algo impessoal. Até que matarmo-nos uns aos outros, se tornou natural. Até que acabarmos com a vida de outro ser vivo não nos faz sentir nada. Nem mesmo a tão ambicionada supremacia ou satisfação pessoal.

Por isso, antes de tudo mais… antes de todos os demais, aceita-te! Aprende a amar cada pedacinho de ti. Cada pedacinho do teu corpo, da tua história. E não te frustres, melhor, não te deixes abandonar na frustração de não conseguires à primeira. A culpa não é inteiramente tua. Numa sociedade que nos ensina a amar só as pessoas perfeitas, focadas, impenetráveis, é normal que te seja difícil aprenderes a amar e respeitar um ser imperfeito, que se foca inicialmente, mas que se distrai com as suas próprias vulnerabilidades. Ainda que esse mesmo ser sejas tu próprio. Tu própria. Tu proprie.



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